Cantora lírica moçambicana regressou aos palcos este mês, depois de enfrentar dias difíceis durante o confinamento, em Espanha, onde vive.
Mariana Carrilho vive há 11 anos no estrangeiro. Ao fim de uma década, a cantora lírica passou, nos últimos meses, por grandes provações em relação à sua carreira musical, pois, com o confinamento imposto pela COVID-19, em Espanha, não só esteve desempregada como teve de suportar ficar longe do palco e do público.
Depois de dois concertos suspensos, a artista moçambicana voltou a sentir a emoção de estar no palco no passado dia 19. O musical com Gerard Mejías (Guitarra) e Laura Elena López (Soprano convidada) foi no Casino de Sant Andreu de la Barca, em Barcelona. Para a mezzo-soprano, o espectáculo que aconteceu num terraço, em condições não ideais para um reportório clássico com guitarra, foi… “uma sensação muito boa voltar ao palco, com público a desfrutar do momento. Foi uma volta de uma maneira muito curiosa. Regressamos à expressão… O que são as artes sem esse contacto com o público? O que significa dar um concerto se este concerto não tem público? A energia do público é importante e foi muito positiva no meu regresso ao palco”.
O concerto no Casino de Sant Andreu de la Barca, até aqui, é o único de Mariana Carrilho neste contexto de COVID-19. Também por isso especial numa carreira no estrangeiro que, afinal, é exigente: “Muitas vezes parece um investimento sem retorno esta carreira fora do meu país. É complicado. Não é um mar de rosas, não vou estar aqui a mentir. Não é fácil, mas as experiências que vou acumulando com isso vão compensado, de certa forma, esse investimento. Eu sei que vai haver esse retorno do investimento que estou a fazer, porque confio no meu trabalho e nas circunstancias que me vão ajudar, de alguma maneira. Além disso, eu tenho o grande privilégio de contar com o apoio da minha família. Isso é que me dá forças para continuar”.
Durante o confinamento, a cantora lírica se perguntou se deveria seguir com a sua carreira. Nessa altura, já não se tratava de querer lutar por uma carreira artística. A questão era: “será que eu posso? A pessoa já tem uma certa responsabilidade, os anos vão passando e começas a questionar-te: Será que eu posso continuar a fazer isto? Começas a duvidar muito quando acontecem estas coisas. Mas eu confio e tenho apoio dos meus pais e da minha família. Eu não tenho medo de trabalhar, eu não tenho medo dos desafios e nem de lutar. Se tivesse medo, não estaria a viver há 11 anos fora do país”.
Com a chegada da COVID-19 a Espanha, Mariana Carrilho teve momentos difíceis a nível profissional e financeiro. Dar aulas online foi o que a suportou. Entretanto, a mezzo-soprano vê algumas vantagens na pandemia: “A coisa positiva da pandemia foi a mudança de olhar sobre a comunidade, sobre a união humana e sobre o abuso ao planeta”.
Antes da pandemia, Mariana Carilho estava a trabalhar em três espectáculos, dos quais dois foram suspensos. O primeiro era especial porque a cantora lírica passou por audições, tendo sido seleccionada. O segundo era especial porque seria a primeira vez que cantaria no Palau de la Música Catalana de Barcelona. “Para quem não conhece, é uma das salas mais importantes para concertos de música clássica em Barcelona e na Europa”. O concerto cancelado seria com a orquestra de guitarra de Barcelona e a artista seria solista convidada.
Ultrapassadas as dúvidas durante o confinamento, para a mezzo-soprano, hoje em dia, seguir as artes e cantar é um acto de fé e de verdade para comigo mesma.
PERFIL
Mariana Carrilho é mezzo-soprano e artista visual. Iniciou os seus estudos musicais em 2014, depois de concluir a licenciatura em Belas Artes. Em 2018, concluiu com mérito o grau superior de Canto – Interpretação de Música Clássica sob a orientação de Carmen Bustamante, no Conservatório Superior do Liceu, em Barcelona. Como artista visual, participou em vários festivais de cinema, exposições colectivas e individuais, dos quais se destacam o Festival Dockanema (Moçambique), onde foi selecção oficial do prémio PLMJ de Vídeo Arte, e o Avanca Film Festival (Portugal), onde trabalhou com Mehdi Rahmani e Vasco Pimentel.
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