Tudo começou quando a mãe foi a vizinha Africa do Sul e lá conheceu o referido jovem, que a confidenciou que precisava de uma rapariga, para ser sua esposa, ao que ela, a mãe, disse que tinha a filha que entretanto, ainda era menor.
O jovem prontificou-se a assumir todas despesas da escola, até que a rapariga crescesse e sempre mandava dinheiro para as despesas da casa, sem no entanto revelar a verdadeira origem do dinheiro.
Mas foi precisamente quando a mãe morreu que o pior pesadelo da vida da adolescente começou. A avó, mãe da mãe da adolescente, ciente dos factos, disse a mesma que ela devia ir ao lar, uma vez que o referido jovem, já tinha gasto muito dinheiro com ela. A adolescente recusou-se, mas o pacto firmado entre a mãe e o jovem vingou e mesmo a contra gosto, a rapariga foi levada para casa do jovem e tornou-se sua esposa.
Sem alternativas, a adolescente teve de juntar-se ao jovem para pagar a dívida da mãe. Logo no primeiro ano dessa relação, a adolescente ficou grávida, na altura com apenas 14 anos de idade e conta que nem sequer podia ir à escola.
“Eu pedi a ele para ir à escola, porque ainda estou em idade escolar, mas ele disse que eu não devia estudar, aí sugeri que ele abrisse algum negócio para mim e nem isso ele aceitou. Ele queria que ficasse em casa todo tempo”, revelou a rapariga, aos prantos, enquanto lembrava de tudo que passou no lar.
A adolescente conta que passou dias difíceis nas mãos do marido e por isso decidiu abandonar o lar. Mas no regresso à casa, nem o apoio da família ela teve.
”Eu sofria muito, aquele homem era muito mais velho que eu, não queria ficar com ele, mas não tinha para onde ir, quando saí de lá, voltei para casa, mas minha família ficou contra mim e diziam que eu devia voltar ao lar”, disse a adolescente ao “O País”
Uma vez que ninguém a aceitava na sua casa, ela teve de ir viver em casa da avó, mãe do seu pai e tenta se recuperar do trauma que viveu. A adolescente pretende correr atrás do sonho de se formar em medicina, mas agora tem o desafio de muito nova, ter de conciliar o filho menor que deve cuidar e a escola.
Só este ano, a polícia em Jangamo registou 13 casos de meninas menores de 18 anos, que viviam em uniões com pessoas adultas. Segundo Maria Fernando do Departamento de Protecção à Mulher e Criança no Comando Distrital da Polícia em Jangamo, dos casos registados, 9 raparigas foram resgatadas para as famílias e correm neste momento processos crimes nas autoridades judiciais, de forma que os infractores sejam responsabilizados. Aliás, deste resgate, pelo menos duas pessoas foram detidas e deverão responder e aguardar pelo fim do processo nas celas.
Mas, nem todos tiveram a mesma sorte que esta adolescente. Em jangamo, há o registo da morte de uma outra menina de 16 anos de idade, por complicações de parto, ”nós já tínhamos resgatado a rapariga, mas ela estava gravida, dias depois ela deu parto, foi um parto muito complicado uma vez que ela ainda era criança, as coisas complicaram e 36 horas depois ela morreu e deixou o bebé com a avo” revelou Ernesto Nhambir da Acção Social naquele distrito.
O distrito de Jangamo é o que mais casos de uniões prematuras regista em Inhambane, tendo sido resgatadas dos lares, cerca de 800 raparigas nos últimos 5 anos.
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